Miragem

Eu gosto de correr, sentir como se minhas pernas tivessem um controle própio, por instinto. Noite passada, corri por um sonho em um lugar diferente, intocado. Aquele lugar não pertencia a mim, mas me parecia estranhamente bom estar ali, mesmo que... Mesmo que talvez eu não permanecesse aquela paisagem.
Era incrível sentir minha pele gelar com aqueles sopros que me empurravam fortemente, mas dessa vez, eu estava conseguindo me mover! Logo notei o motivo disso quando o vi, arfando ao meu lado. Estava ali, toda a minha razão imersa naquele milagre.
"- Ah, N..."
Eu estava prestes a perguntá-lo por que ele não havia partido (mesmo sabendo do real motivo disso, eu sempre gostava de ouvir as palavras dele), até que os gritos alarmantes de meu pai me acordaram, a vaga lembrança desse sonho se fixou em minha mente. Óbvio, como eu poderia esquecê-lo? E naquele sonho eu pairei por longos séculos de coração batendo, eu ouvira seu silêncio com cautela, ele sussurara algo em meus ouvidos, ou seria apenas obra de minha cabeça? O vento podia ter feito barulho, mas não conseguiria ser tão doce quanto as palavras destiladas em minhas têmporas: Eu estou aqui, Bela... Eu nunca parti. Queria poder acreditar naquelas palavras gentis...