
Névoa. Isso tornara-se constante nos meus dias, acordava daquele mesmo pesadelo, e não me acostumara com ele, mesmo tendo-o há meses. Sempre acordava aos gritos, o suor frio descendo pela testa... Eu simplesmente me habituei com aquela dor, ela não tinha diminuido com o tempo, talvez eu apenas tivesse me tornado forte o suficiente para "suportá-la", era o que pensava.
O barulho ao que me referia eram estrondos de almas tão vazias quanto a minha, e naquela água densa eu me rebatia, querendo sentir alguma leveza no peso de meus pensamentos atormentadores, a leveza de uma pluma, sossegar como em um sonho paradisíaco.
Era impossível descansar um corpo sem que a alma estivesse na plenitude de um silêncio. Então deixei que a respiração me escapasse por entre os lábios frios e que, dessa forma, meu corpo gelado pudesse afundar, cheio de cansaço, para descansar na paz daquela submerção.
Já passara muito tempo desde que entrara ali, e embaixo d'água só se ouvia um silêncio apaziguador. Continuei segurando meu fôlego, olhei fixamente para minhas mão que eu mesma posicionara à frente de meus olhos: a pele esticada num punho fechado, abri-as com dificuldade. Os dedos estavam enrugados, marcas tão profundas quanto as de um ancião, aquilo era como parar de viver por uma porção de segundos, e isso me parecia entorpecente.
Me restava pouco tempo até que minha capacidade se esgotasse, fiquei observando aquela cena com precisão, um espectro envolvera minhas mãos, como um contorno luminoso, minha vista já começava a ficar escura, eu tinha que voltar à superfície... Não da água... De minha vida.
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