
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados. Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada. Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... Tu irás e encostarás a tua face em outra face, teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua voz amorosa, porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. E ficarei só como os veleiros nos portos silênciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir e todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão, a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
(Copiado da Antropologia de Vinícius à dezembro de 1981)
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